Portugal

Os brasileiros que vêm para Portugal

Os brasileiros que vêm para Portugal são de todos os tipos. Até arrisco dizer que construímos um pequeno Brasil além-mar, com todas as nossas inúmeras características sociais e culturais, qualidades, defeitos e costumes. Viemos de norte a sul do nosso Brasil e chegamos aqui com sonhos de todas as proporções. Somos um em cada cinco imigrantes em Portugal, como você pode conferir nesse link.  Nas maiores cidades, como Lisboa e Porto, já é impossível andar pelas ruas e não ouvir o nosso “sotaque”. Ou então ir a um supermercado ou café e não encontrar um conterrâneo, seja consumindo ou fazendo parte do quadro de funcionários. Nas escolas portuguesas também não é diferente. Certamente não conheço todas as escolas daqui, mas todas que pude conhecer ou ouvir falar têm pelo menos um brasileiro matriculado. Na escola dos meus meninos tem tranquilamente mais de 10 brasileirinhos. O que já era de se esperar, pois não? São muitos anos de história desse movimento migratório para Portugal. O movimento migratório do Brasil buy steroids online para Portugal Quem não se lembra das matérias bombando nos noticiários brasileiros sobre a grande imigração de dentistas do Brasil para Portugal entre os anos 80 e 90? E não parou. Embora tenha abrandado, a chegada desses profissionais por aqui ainda é grande. O que os motivou foi a facilidade de se recolocar profissionalmente. Naquela época chegavam e já conseguiam trabalhar. Havia um acordo entre Brasil e Portugal que estabelecia a equivalência direta entre os diplomas. Hoje já é um tanto mais trabalhoso. Em grande parte das profissões é necessário que se faça um “período” do curso em Portugal para “validar” o seu diploma. O meu, por exemplo, na área de comunicação, exige mais um ano de estudo para que eu tenha meu ensino superior reconhecido. Leia também: Um pouquinho sobre meus queridos portugueses Mas enfim, vamos caminhar na história. Depois vieram muitos brasileiros em busca de uma colocação profissional na construção civil, no varejo, no ramo da limpeza e onde mais pudessem trabalhar. Em grande parte vinham sem família para tentar a vida por aqui. Muitos tiveram sucesso, fincaram pé em terras lusitanas, e hoje formam famílias multiculturais luso-brasileiras. A partir de 2010, com a grande crise financeira na Europa, que tomou Portugal como uma de suas piores vítimas, começamos a atravessar o oceano de volta. Ficou complicado imaginar um futuro promissor por aqui, visto que até os portugueses estavam lutando contra o desemprego. Mas não demorou para mudarmos novamente o rumo da travessia. Em 2014, com a economia já avistando uma tímida melhora, voltamos a imigrar para Portugal. Foi um período que também veio de encontro com as muitas crises e escândalos políticos no nosso país, quando a população, educação, saúde, segurança já não tinham nenhum tipo de prioridade. Isso trouxe uma triste falta de perspectiva para o nosso povo, que começou a buscá-la bem longe do nosso gigante. O número de imigrantes cresceu ainda mais nos últimos anos, quando a política do queridinho da imigração brasileira, os EUA, não pareceu assim, muito amistosa. Então miramos com tudo para esse lado do oceano, e para Portugal, é claro! Mesmo idioma, com um inverno não tão rigoroso, cheio de praias, seguro e com uma economia cada dia mais estável. Mas afinal, quem vem hoje para Portugal? Por muitas conversas com os meus queridos portugueses e pelo que vejo diariamente, resumo da forma abaixo, mas não exatamente em ordem crescente. Existem aqueles que têm dinheiro e não precisam se preocupar em ter um emprego de imediato para sobreviver. São pessoas que chegam, alugam ou compram casas grandes, e na sequência abrem uma empresa ou vivem dos seus próprios rendimentos adquiridos durante a vida. Os imigrantes dessa categoria, em sua grande maioria, escolhem Cascais como sua nova morada. Eles já vêm com o visto de residência, ou por dupla nacionalidade ou por consequência dos investimentos que farão no país. Outra categoria são aqueles brasileiros que fizeram um “pezinho de meia” para a mudança. Vendem o que têm no Brasil para ter uma reserva até se adaptar. Já vêm com emprego, visto de residência e normalmente se estabelecem nas maiores cidades, Lisboa e Porto, ou arredores, onde há mais oportunidade de trabalho.   Depois há aqueles brasileiros que por algum motivo não se encaixaram em nenhum dos tipos de vistos concedidos pelo governo português, porém vêm da mesma forma e tentam se legalizar depois da chegada. Como o brasileiro não precisa de visto para entrar como turista em Portugal, muitas vezes durante os 90 dias de “turista”, se informando bem sobre as leis, pode-se dar entrada nos trâmites para obtenção de algum tipo de visto. Esses imigrantes, na maior parte da vezes, escolhem cidades menores que possuem aluguel e custo de vida mais baixo para se estabelecer. O número de estudantes brasileiros que chegam aqui também cresce todos os anos. Assim como os incentivos para esse tipo de visto. E finalmente os aposentados. Esses sim, sabem viver! Vêm com a sua renda e vistos garantidos do Brasil e em sua grande maioria estabelecem-se no Algarve, região de muitas praias, lindas paisagens e clima ameno. Afinal, trabalharam a vida toda e merecem! Hoje somamos em Portugal mais de 105 mil cidadãos, segundo esse site de notícias. Não é à toa que encontramos nas redes sociais inúmeros grupos de apoio aos brasileiros que querem morar ou moram por aqui. Em uma rápida pesquisa é possível encher uma página de resultados. Apesar desses grupos terem muitas respostas, cada caso é sempre único e as leis podem mudar de uma hora para outra. Por isso, é sempre mais seguro consultar um órgão oficial, como um dos consulados portugueses no Brasil ou o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras). Esse é o retrato do meu Brasil-Português, tirado por uma mãe mundo afora completamente apaixonada pelos dois países! Leia mais…

O sonho europeu

O sonho europeu pode mesmo se concretizar, se estiver disposto a vivê-lo em toda a sua intensidade. Viver aqui é maravilhoso sim, no Brasil também era. Tenho cá para mim que viver é bom em qualquer lugar. Se estamos vivos só nos resta agradecer! O que nos apresentam, lá do nosso “gigante”, sobre esse distante “lado de cá” do oceano são paisagens maravilhosas, igualdade social, pouca violência, respeito ao próximo e uma economia equilibrada. Sim, está muito perto da verdade, temos bastante disso aqui. Mas hoje estou aqui para falar do outro lado dessa moeda, um pouquinho da história até aqui, começando em um tempo em que eram os portugueses que imigravam para o Brasil com seus sonhos e como essas histórias se refletem na cultura portuguesa. Um pouquinho de Portugal Portugal é um país pacífico. Pacífico a ponto de declarar neutralidade na Segunda Guerra Mundial. No pós-guerra mais de cinco mil crianças austríacas foram trazidas para solo português para salvá-las de uma Europa destroçada, da fome e do frio. Eu tive a honra de conhecer uma dessas crianças, hoje um senhor graças à solidariedade do povo português. Sinto o meu coração apertar só de imaginar o sentimento dessas famílias que se viram obrigadas a ficar sem as suas crianças, mas me conforta a grandeza de quem abriu as portas de suas casas para alguém que nunca viram em nome da humanidade. Tempos depois, as crianças voltaram para as suas famílias biológicas. Vale a pena conhecer um pouco mais sobre essas corajosas crianças aqui. Um país que passou há poucos anos por uma grande crise econômica. Viu a desigualdade social aumentar, serviços básicos serem cortados, um grande número de empresas falirem todos os dias. O desemprego chegou a altos níveis, atingindo 40% entre os jovens. Mesmo diante desse cenário o governo se viu obrigado a aumentar os impostos para a população na tentativa de equilibrar sua economia. Com o alto endividamento público e privado o país teve que pedir socorro ao FMI e à UE, contraindo uma dívida de muitos milhões. Portugal foi um dos países mais afetados com a grande crise européia e ainda não se recuperou completamente, mas está indo muito bem! Leia também: Do Brasil para Portugal O comprometimento com o respeito ao nosso planeta e a uma vida saudável começa muito cedo dentro de casa, continua nas escolas e se entende pela vida adulta. As pessoas fecham o chuveiro para se ensaboar e economizar a água do planeta. Essa parte está sendo um tanto desafiadora para mim. Os meus meninos até hoje, um ano depois da nossa chegada, ainda estão encantados com a banheira, muito comum por aqui. Mas aos poucos estamos diminuindo o tempo de banho e evitando cada dia mais o desperdício da nossa preciosa água. A louça também se lava com a torneira fechada. A secadora de roupa, quando existe na casa, quase não é usada,  o melhor mesmo é secar a roupa ao ar livre, de preferência estendida para fora da janela, seca bem mais rápido! A “marmita” é muito bem vinda e pode-se encontrar um micro-ondas em muitas praças de alimentação ou até fast-foods, superando as leis do capitalismo. São lugares que vendem comida, mas se a sua opção for sentar ali para comer a que trouxe de casa será bem-vindo. Hora da faxina Tantos lugares lindos para visitar, e muitas vezes acabamos por passar o final de semana em casa cuidando da limpeza, lavando o banheiro e fazendo comida. Tão contraditório, mas tão real na rotina européia. No Brasil eu tinha uma funcionária que limpava não só os meus banheiros, como a minha casa toda e ainda ajudava na cozinha. Eu só precisava cuidar da limpeza se eu quisesse, normalmente eu não queria. Aqui percebi que apesar de ser trabalhoso o cuidado com uma casa com quatro pessoas, sendo duas delas dois moleques sapecas de 4 e 7 anos, me sinto orgulhosa de “dar conta” e feliz com o que essa mudança na rotina me proporcionou enxergar. Meus meninos adoram ajudar nessas tarefas, principalmente as que envolvem água, limpam os vidros e chegam a brigar para passar a querida “esfregona”. Uma atividade que eu fugia, hoje vejo que une a família. Um trabalho que sempre evitei, hoje me ajuda a passar valores aos meus meninos e ainda acaba por ser divertida! Essas pequenas mudanças na rotina acabam acontecendo naturalmente depois da mudança. Uma cultura que passo com muito orgulho para os meus filhos. Eles estão aprendendo que atitudes simples são muito importantes para o nosso planeta. Crescem sabendo que as coisas não são infinitas. Temos que saber cuidar para ter. E aprendem que levar a comida de casa é um verdadeiro privilégio que nem todos podem ter. Isso os torna cidadãos do mundo! Esse, na minha opinião, é clenbuterol buy o verdadeiro sonho. Qualidade de vida, convivência em família, aproveitando as coisas mais simples ao lado de quem amamos.

Um pouquinho sobre meus queridos portugueses

Se eu tivesse que escolher uma única palavra para dizer aos portugueses seria: “Obrigada!” Fomos recebidos de braços abertos. Os portugueses adoram conversar com os brasileiros e conhecer as “aventuras” no gigante chamado Brasil. Eles apreciam a nossa terra, conhecem por livros, revistas e programas de televisão. Muitos também a conhecem pessoalmente. Se interessam pela nossa cultura, geografia, sabem falar do clima tropical, população e politica. Às vezes parece até que já moraram lá. Fato é que nenhum português é indiferente ao nosso país, todos têm uma opinião sobre ele, grande parte das vezes positiva. Ah, e como sabem elogiar as nossas praias! Mesmo tendo em seu país cinco das 15 praias mais bonitas do mundo. Nesse ranking o nosso Brasil também marca presença, pois não? Quem acreditaria se eu dissesse que há 40 anos a novela Gabriela fez parar por muitas vezes a Assembleia Nacional Portuguesa para que os deputados pudessem assistir aos seus capítulos? Se parou a assembleia nacional, imagine o resto do país. Vale a pena ler essa história aqui. Você pode passar horas falando das experiências na nossa pátria, que do começo ao fim terá a mesma atenção. Durante a conversa ninguém o interrompe, muito menos atende o celular. Uso do tempo Essa é outra questão maravilhosa. Eles sabem como ninguém fazer uso de um senhor chamado TEMPO. Tenho cá para mim que é por isso que vivem tanto. Eles sentam tranquilamente em um café e leem sem pressa, sozinhos. Não há nada que possa perturbá-los. Nada os abala nesse momento, nem os meus dois furacões quase derrubando a sua mesa porque viram a geladeira de sorvetes. Aqui diríamos “o refrigerador de gelados”. Um português nessa situação nem olha para o lado, aquele tempo é só dele. Leia também: Do Brasil para Portugal E também não existe pressa ao ajudar os outros. Um português é capaz de tirar o dia para responder a uma pergunta, e só falar o famoso: “Então vá!” quando tiver certeza que você entendeu a resposta. São capazes de mudar o próprio caminho para se certificar que você acertará o seu. Eu já passei por isso e serei eternamente grata àquele senhor. Relação dos portugueses com as crianças E a confiança e o respeito à criança? Um grande aprendizado. Apesar de educarem com muita firmeza, uma criança tem o respeito deles em qualquer idade. Não me esqueço do dia em que meus heróis estavam cheios de brinquedos na areia e chegou um menino, olhou para mim e perguntou: “Posso brincar?” Enquanto eu abria a boca para responder o pai falou: “Não pergunte à senhora, pergunte às crianças, os brinquedos são deles!” Ou o dia que tive uma dúvida sobre algo que aconteceu na escola e perguntei a uma funcionária o que havia ocorrido, ao que ela prontamente me respondeu: “Eu não sou a responsável por crianças da idade dele, cuido dos mais velhos, mas pergunte ao seu filho, foi ele quem viu, será a resposta mais certa que terá.” Nesse caso estou falando do meu pequeno, que naquela altura tinha 3 anos. Como uma criança pode não crescer confiante ouvindo esse tipo de conversa? E não se atreva a responder uma pergunta direcionada a um miúdo (crianças, em Portugal). Se a pergunta foi feita a ele, ele é quem deve responder. Como simples exemplo: “Qual é o seu nome?” Nós brasileiros, por delicadeza, se a criança não responde em alguns segundos, logo respondemos por ela para que a pessoa não se sinta ignorada. Um português não se importa em ficar sem reposta, aceitam perfeitamente que crianças, às vezes, simplesmente não respondem. Na verdade a resposta nem é importante, e sim interagir com a criança. Só aqui percebi o quanto estava habituada a responder em nome dos meus filhos. A culinária portuguesa E sobre a culinária portuguesa, que vai da porção de caracóis aos pastéis de nata sem perder a perfeição? E ainda no meio do caminho encontramos também arroz de todo o tipo: tomate, polvo, pato, marisco e talvez algum mais que ainda não conheço. As receitas que incluem bacalhau são incontáveis. E você já tinha ouvido falar em feijoada de camarão? Aqui tem. Só não se engane com as pastelarias , são muitas, mas nenhuma delas vende os nossos deliciosos pastéis de feira. Para achar um desses aqui terá que achar primeiro uma casa de lanches brasileira. E seria inesperado dizer que o nosso pão francês aqui é chamado de pão brasileiro? Que honra! Os pães aqui são um capitulo a parte, imagine um sabor e formato que encontrará em qualquer supermercado. Mas de forma alguma mudando para esses lados vamos ficar sem o nosso arroz com feijão, que conseguimos encontrar sem dificuldade. Mas sim, você terá que se acostumar com a ideia que sopa não é um prato único e saboreado apenas na estação mais fria do ano. Aprenderá a tomar sopa antes de todas as refeições, no inverno e no verão, e achará uma delicia! Seus filhos também irão se acostumar, inclusive antes de você. A sopa é servida nas escolas todos os dias antes do almoço. Então, como não deixar o meu MUITO OBRIGADA aos queridos portugueses, que me ensinam todos os dias a sua cultura com tanta alegria e o orgulho de ser português!

Imigrar: as famílias que vêm e as que voltam para o Brasil

Desde que me mudei do país, já vi muitas famílias chegarem, mas também muitas voltarem para o Brasil. Nesses quase 300 dias em que estou em Portugal, já entendo um pouquinho sobre os sentimentos que nascem junto com a decisão de imigrar. Já passei por quase todas as datas importantes e adaptações que imaginei que seriam muito difíceis ou impossíveis. Foram aniversários de familiares, feriados importantes, carnaval, páscoa, férias, ano novo. Só não posso falar do Natal, porque esse passei no Brasil. Já percorri também todas as modalidades de repartições públicas para finalmente fincar pé nesse lugar pelo qual me apaixonei à primeira vista. Mas não foi das datas e documentos que vim falar hoje. Quero escrever sobre aqueles que saíram do nosso país para viver aqui e voltaram, mesmo depois de todo o esforço que uma mudança dessa proporção exige, e os motivos que fazem com que essas pessoas repensem a decisão de deixar o seu país, dizer adeus a parentes e amigos e voar. Aqueles motivos que deram o pontapé na mudança muitas vezes perdem o valor diante dos novos desafios geográficos, culturais e psicológicos. São muitas adversidades a serem enfrentadas, e para muitas delas não estamos preparados. Alguns encaram e vão em frente, enquanto outros acham que não vale a pena continuar. Depende da história e das prioridades de cada um, afinal, viemos para esse mundinho para sermos felizes e temos que correr atrás dessa felicidade custe o que custar. Esse custo pode ser, algumas vezes, só o da passagem de volta para o seu país. As diferenças e dificuldades Aqui não tem churrasco com os amigos todo final de semana, aliás nesse quase um ano aqui comi churrasco uma única vez. Foi na casa de um amigo também brasileiro a 347 km de distância da minha casa . Foi ótimo, guardo aquele sabor em um lugar especial da minha memória. Os vizinhos não serão seus amigos, a não ser que você tenha a sorte que eu tive com os meus vizinhos de andar. Em grande parte das vezes, você não os conhece, e aconselho: não tente ser demasiado simpático, não dará certo. Mas se os seus filhos fizerem barulho, é bem possível que um deles bata à sua porta e fique muitos minutos explicando porque os seus tesouros não podem fazer aquilo, apesar de pedir imensas desculpas por se tratar de crianças. Mesmo assim sinta-se feliz! Porque se tem vizinhos é porque conseguiu alugar um lugar para morar. Confiem em mim: isso não é uma tarefa fácilpara um imigrante sem histórico em Portugal. Em uma fila, mesmo que de horas, não há assunto para se falar. Você não saberá o nome da pessoa à sua frente, a não ser que ele seja nosso conterrâneo. A burocracia por muitas vezes supera a brasileira. Em algum momento você sofrerá preconceito, mesmo que tenha dupla nacionalidade, seja ela portuguesa, italiana, alemã, austríaca, espanhola, grega, lituana… Enfim, abriu a boca e falou “português brasileiro” é brasileiro! A lei até diz que quem tem nacionalidade dos países da zona do euro nem imigrante é, mas o seu sotaque te denuncia. Você fará muitos novos e queridos amigos, brasileiros e portugueses, mas continuará a sentir muita falta daqueles que fez na infância. Brasil e Portugal se conhecem há mais de 500 anos, mas não são exatamente íntimos. Essa amizade ainda está sendo construída. Por que voltar?  Somam-se as dificuldades encontradas na sua nova morada às histórias, expectativas e sonhos por trás de cada um de nós. Essa conta resultará na adaptação no novo país ou na decisão de voltar ao Brasil. Cada ser humano vem com uma bagagem de história muito especial e exclusiva. Conheci algumas desde que cheguei aqui. Alguns deixaram um parente doente. Outros dividiram a família porque um dos membros já tinha seus projetos no Brasil. Os filhos não se adaptaram à cultura e à escola. Ou, ainda, vieram sem entender que o salário, mesmo sendo em euro, não será cinco vezes maior do que o do Brasil. Não adianta converter e usar como base o seu custo de vida aí – você ganhará em euro, gastará em euro e o seu salário será proporcional à economia do país. Enfim, são tantas histórias que não caberiam em um só texto. Vou finalizar com uma que é mais comum do que imaginamos. Um conhecido veio morar aqui com a família, contratado por uma multinacional, e voltou em menos de um ano da mudança. Um parente adoeceu e a escolha dessa família foi voltar definitivamente para o Brasil. Essas coisas acontecem. Essa família estava com emprego, bom salário, bom apartamento, crianças na escola, mas chegou um componente surpresa que fez com que a história mudasse o rumo. Conheço histórias bem semelhantes em que a família deu todo o suporte daqui, mas não voltou. Imigrar é um desafio. Tem alguém errado? Não. São apenas escolhas. Leia mais…

Eu nunca vi uma babá em Portugal

Eu nunca vi uma babá em Portugal. E reparem que estou aqui há sete meses, aproximadamente 210 dias, frequentando escolas, parques, aulas de esportes e até mesmo a área de pediatria de hospitais, locais cheios de crianças. Aquela figura de branco cuidando de crianças que não são delas só existe agora na minha memória. No Brasil, precisamente em São Paulo, nós éramos sócios de um clube que frequentávamos todos os dias, a escola que os meus meninos estudavam ficava lá dentro. Lembro-me bem que muitas vezes eu não conhecia os pais da criança, só a babá. Em uma cidade tão grande, se os pais trabalham, não conseguem participar da vida da criança no meio do dia. O que é completamente justificável nessa grande metrópole, onde os deslocamentos levam em média uma hora, mas podem demorar muito mais. Eu nunca contratei os serviços de uma babá, no início larguei tudo para cuidar dos meus pequenos. Quando voltei a trabalhar, tive a sorte de poder entregar tudo remotamente. Por mais enlouquecedora que seja a minha vida, consigo dar conta da rotina diária sem a ajuda de terceiros. Mas nada contra esse anjinho de branco que existe nas casas brasileiras, tenho inúmeras amigas que têm babá, algumas 24 horas por dia, sete dias por semana. Cada família desenha a sua rotina conforme a necessidade. Mas por que vemos menos babás em Portugal ? Na minha opinião, um conjunto de motivos faz com que vejamos menos babás em Portugal. Pelo que reparei, o europeu em geral não é muito adepto aos serviços terceirizados dentro das casas, tais como cozinheira, faxineira, porteiros, babás, motoristas, e assim por diante. Trabalhos para os quais com frequência no Brasil pessoas são contratadas para desempenhar, aqui precisamos procurar bastante para achar. Isso não quer dizer que não existam, mas é mais difícil ver. A geografia do país também ajuda bastante. As cidades são menores, consequentemente os deslocamentos também são, facilitando aos pais a participação na rotina dos filhos. Aqui em Portugal podemos tranquilamente morar em uma cidade e trabalhar ou estudar em outra, muitas vezes esse deslocamento demora menos de dez minutos. Leia também: O que aprendi após cinco meses em Lisboa, Portugal Os horários e suporte das escolas são fundamentais. As aulas começam de manhã (9 horas) e com as aulas extras podem ir até as 19h30, seja escola pública ou privada, isso significa que as aulas podem durar todo o horário comercial. Os pais têm a possibilidade de deixar a criança na escola para ir trabalhar, e buscá-la ao sair do trabalho. Nas férias também temos as instituições e programas cheios de atividades para os miúdos (como os portugueses se referem às crianças). Só ficamos realmente “desamparados” em agosto, quando tudo fecha. Esse é o momento das férias em família, quando a grande maioria vai viajar e aproveitar com as crianças, afinal, é verão, depois de tanta correria, nós merecemos! Como trabalham as babás por aqui Mas enfim, minhas amigas, voltando às babás… elas existem! Quando comecei a pensar no assunto, fiz uma rápida busca na internet e contato com algumas agências. Não foi nada difícil de achar e as empresas me pareceram bem profissionais. Achei muito legal saber que algumas babás levam consigo um dossier, ou seja, uma pasta descrevendo a experiência profissional, com referências e histórico de trabalho. Seja a casa que ela for, a documentação estará lá para provar que ela é apta para cuidar dos nossos tesouros. Já vi também famílias que, por não ter nenhum amigo ou parente para ajudar em Portugal, contratam alguém conhecido para cuidar das crianças enquanto os pais trabalham ou têm outro compromisso. O trabalho dessa forma fica bem parecido com as nossas queridas babás brasileiras. Mas o papel que que uma babá desempenha, como conhecemos por lá, é mesmo uma raridade. Muitos pais precisam da ajuda e recorrem a outras pessoas, a diferença é que isso acaba acontecendo só pelo intervalo entre a escola e os pais chegarem em casa. Assim que chegam eles assumem as tarefas, como jantar, banho, colocar para dormir. Descrevo aqui o que vejo com mais frequência, mas uma vez que o combinado com o profissional seja fazer essas tarefas, acredito que não tenha nada que impeça. O trabalho desses cuidadores é valorizado e bem pago. Nas pesquisas que fiz, achei preços médios de 11 euros a hora, por no mínimo três horas. Se ela trabalhar três horas por dia, cinco dias por semana, já ganhará um salário mínimo. Existem trabalhos aqui de domingo a domingo, oito horas por dia, que oferecem o mesmo valor. O papel do pai Bom, já que aqui chegamos à conclusão que temos menos babá em Portugal pela cultura, geografia, custo e mais algum motivo que eu ainda não tenha percebido, a consequência disso é vermos a figura masculina bem mais participativa na vida dos filhos, dentro e fora de casa. É muito mais comum ver pais levando as crianças para a escola, o parquinho e até mesmo participando de reuniões com educadores e professores. Não é raro ver aos finais de semana o pai levando a menina para a natação, dando banho, ajeitando o laço do vestido e arrumando o cabelo dela depois de lavado, cena corriqueira por aqui que me encanta! Acho isso extremamente saudável, e na minha opinião, impede que a criança forme aquele pré-conceito que a figura feminina que tem que dar conta de toda a estrutura da casa, seja a mãe ou uma funcionária. Um lindo aprendizado!

O que aprendi após cinco meses em Lisboa, Portugal

O que aprendi após cinco meses em Lisboa, Portugal. Parece uma vida. De alguma forma é, toda a nossa nova vida… Há 5 meses eu, meu marido e meus dois meninos (um com 3 anos e o outro com 6 anos) chegávamos ao aeroporto de Lisboa com 3 malas grandes, 5 caixas enormes e 4 malas de mão. Trazíamos na nossa mudança roupas, sapatos, brinquedos, porta-retratos, alguns talheres e muitos sonhos. Foram muitos obstáculos superados, despedidas de um lado do oceano e reencontros do outro. A anestesia da mudança passou, seguimos encarando essa realidade de uma imigração com duas crianças pequenas com mais tranquilidade. Leia também: Mergulhando de cabeça no novo mundo Viemos em busca de qualidade vida, segurança, boas escolas, todos aqueles motivos que o bom brasileiro bem conhece. Viemos também em busca de “Ser” mais do que “Ter” e ensinar isso aos nossos filhos. Tenho que dar os devidos créditos a minha querida amiga Silvana, foi ela quem me apresentou essa frase que eu incorporei ao meu repertório. E cá estamos, em Lisboa, Portugal. Enquanto planejava a mudança fiz inúmeras pesquisas em blogs e sites, por isso confesso que me sinto emocionada por estar hoje do outro lado dessa telinha correndo o risco de ajudar alguém assim como fui ajudada. Portugal sempre foi nossa primeira opção de mudança. Porque é um país pacífico, com umas das melhores escolas públicas do mundo e por falar a língua portuguesa. Era importante para nós que os nossos filhos entendessem e fossem entendidos, principalmente na escola, local que certamente não estaríamos para auxiliar. Eu e os meninos temos dupla nacionalidade (brasileira e italiana), o que facilita bastante o documento de residência na Europa. Meu marido batalhou e conseguiu um emprego aqui. Pronto, o quebra-cabeça se encaixou e começamos a maior aventura das nossa vidas, depois de ter filhos, é claro. Nós viemos decididos de que a nossa nova vida seria aqui. Vendemos apartamento, móveis, cancelamos todos os tipos de contas e vínculos que tínhamos com o Brasil (menos os afetivos, claro!) com a certeza de fincar pé em um novo mundo, na verdade o velho continente neste caso. Tinha que dar certo, nem a chave de casa eu tinha mais, um pequeno objeto que nesse momento tem um grande significado. Nós não achamos que seria fácil, só que valeria a pena! Com o que aprendemos nesses poucos meses já posso afirmar que cada noite mal dormida, ansiedades e preocupações com o que iríamos encontrar, a incerteza do novo e abrir mão de tudo o que construímos em nosso país durante anos valeu a pena! Aprendemos que o idioma não é barreira para a amizade. Lembra no paragrafo lá de cima quando falei que era importante que na escola falassem português? Nós pais nos preocupamos à toa mesmo, vejam só, entre todas as crianças portuguesas e brasileiras da escola (sim, brasileiros no plural, somos muitos aqui!), o meu mais velho escolheu para melhor amigo um menino que não fala português! É lindo ver uma amizade tão sincera com o diálogo a base de gestos inventados por eles. Gestos são universais e compreensíveis em qualquer idioma, nós adultos não sabemos nada mesmo… Aprendemos que a escola não precisa custar uma fortuna para ser considerada boa, aquela que é de graça mesmo, não trocamos por nada. Posso fazer essa afirmação pois conheço os dois lados da moeda. A adaptação dos meninos nas escolas portuguesas foi feita em uma escola privada. Aprendemos que andar de ônibus pode ser um baita passeio, mas tem que pegar o lugar mais alto lá atrás! Quando chegamos aqui não tínhamos carro, e muitas vezes a parte mais divertida do passeio era ver a alegria deles diante de um grande carro para os conduzirem cheio de lugares para escolher, não tinha que ser aquela cadeirinha de sempre. Aprendemos também que fazer um piquenique na grama colecionando gravetos é muito mais legal do que ir a um grande shopping cheio de brinquedos eletrônicos e fast food. Em Lisboa, para qualquer lugar onde vamos esbarramos em alguma praça, parquinho ou área verde onde podemos estender a nossa toalha e aproveitarmos a tarde. Fazemos isso quase todos os finais de semana, seja lá qual for o passeio, acaba em piquenique. Duplamente saudável, além de estarmos ao ar livre, as comidinhas que levamos são feitas em casa a 8 mãos. Foto: Meninos brincando. Arquivo pessoal. O que mais me surpreende É mais divertido a biblioteca do que a brinquedoteca. Impressionante, não sei se foram os ares europeus ou algo que eles escutaram na escola, mas desde os primeiros dias aqui eles pedem para ir à biblioteca. Todas as vezes que perguntávamos: Onde será nosso passeio hoje? Ouvíamos: Biblioteca! Demoramos um pouco para achar uma, acabávamos optando por lugares dos quais tínhamos certeza que eles iriam gostar. Ledo engano, desde a primeira vez em que os levamos à biblioteca o passeio virou obrigatório de 15 em 15 dias. Eles hoje são sócios da biblioteca e a cada quinzena cobram renovar o acervo dos 5 livros aos quais têm direito a alugar (sem custo nenhum) cada vez que vão. Uma graça de se ver. No campo da história e geografia também não foi diferente Descobrimos que no Brasil cabem 92 “Portugais”, mas mesmo assim aqui é grande, segundo os meus meninos, e eu também acho. Descobrimos que Marquês de Pombal é muito mais que uma estação de metrô e um monumento para turista ver, ele foi muito importante para Lisboa após ter sido destruída por um terremoto, mas que ele não era muito simpático. A parte da simpatia não tive oportunidade de conhecer, ele morreu em 1872, mas a parte de ser importante é verdade, os livros de historia confirmam. Aprendemos que o português é a quinta língua mais falada do mundo, mas nós falamos brasileiro. Será que o nosso idioma entra para essa estatística? Os meus dois heróis acham que não. – É diferente mãe! E é mesmo, sou obrigada a concordar. Que venham novas aventuras e