Eu nunca vi uma babá em Portugal. E reparem que estou aqui há sete meses, aproximadamente 210 dias, frequentando escolas, parques, aulas de esportes e até mesmo a área de pediatria de hospitais, locais cheios de crianças. Aquela figura de branco cuidando de crianças que não são delas só existe agora na minha memória.
No Brasil, precisamente em São Paulo, nós éramos sócios de um clube que frequentávamos todos os dias, a escola que os meus meninos estudavam ficava lá dentro. Lembro-me bem que muitas vezes eu não conhecia os pais da criança, só a babá. Em uma cidade tão grande, se os pais trabalham, não conseguem participar da vida da criança no meio do dia. O que é completamente justificável nessa grande metrópole, onde os deslocamentos levam em média uma hora, mas podem demorar muito mais.
Eu nunca contratei os serviços de uma babá, no início larguei tudo para cuidar dos meus pequenos. Quando voltei a trabalhar, tive a sorte de poder entregar tudo remotamente. Por mais enlouquecedora que seja a minha vida, consigo dar conta da rotina diária sem a ajuda de terceiros. Mas nada contra esse anjinho de branco que existe nas casas brasileiras, tenho inúmeras amigas que têm babá, algumas 24 horas por dia, sete dias por semana. Cada família desenha a sua rotina conforme a necessidade.
Mas por que vemos menos babás em Portugal ?
Na minha opinião, um conjunto de motivos faz com que vejamos menos babás em Portugal. Pelo que reparei, o europeu em geral não é muito adepto aos serviços terceirizados dentro das casas, tais como cozinheira, faxineira, porteiros, babás, motoristas, e assim por diante. Trabalhos para os quais com frequência no Brasil pessoas são contratadas para desempenhar, aqui precisamos procurar bastante para achar. Isso não quer dizer que não existam, mas é mais difícil ver.
A geografia do país também ajuda bastante. As cidades são menores, consequentemente os deslocamentos também são, facilitando aos pais a participação na rotina dos filhos. Aqui em Portugal podemos tranquilamente morar em uma cidade e trabalhar ou estudar em outra, muitas vezes esse deslocamento demora menos de dez minutos.
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Os horários e suporte das escolas são fundamentais. As aulas começam de manhã (9 horas) e com as aulas extras podem ir até as 19h30, seja escola pública ou privada, isso significa que as aulas podem durar todo o horário comercial. Os pais têm a possibilidade de deixar a criança na escola para ir trabalhar, e buscá-la ao sair do trabalho. Nas férias também temos as instituições e programas cheios de atividades para os miúdos (como os portugueses se referem às crianças). Só ficamos realmente “desamparados” em agosto, quando tudo fecha. Esse é o momento das férias em família, quando a grande maioria vai viajar e aproveitar com as crianças, afinal, é verão, depois de tanta correria, nós merecemos!
Como trabalham as babás por aqui
Mas enfim, minhas amigas, voltando às babás… elas existem! Quando comecei a pensar no assunto, fiz uma rápida busca na internet e contato com algumas agências. Não foi nada difícil de achar e as empresas me pareceram bem profissionais.
Achei muito legal saber que algumas babás levam consigo um dossier, ou seja, uma pasta descrevendo a experiência profissional, com referências e histórico de trabalho. Seja a casa que ela for, a documentação estará lá para provar que ela é apta para cuidar dos nossos tesouros.
Já vi também famílias que, por não ter nenhum amigo ou parente para ajudar em Portugal, contratam alguém conhecido para cuidar das crianças enquanto os pais trabalham ou têm outro compromisso. O trabalho dessa forma fica bem parecido com as nossas queridas babás brasileiras.
Mas o papel que que uma babá desempenha, como conhecemos por lá, é mesmo uma raridade. Muitos pais precisam da ajuda e recorrem a outras pessoas, a diferença é que isso acaba acontecendo só pelo intervalo entre a escola e os pais chegarem em casa. Assim que chegam eles assumem as tarefas, como jantar, banho, colocar para dormir. Descrevo aqui o que vejo com mais frequência, mas uma vez que o combinado com o profissional seja fazer essas tarefas, acredito que não tenha nada que impeça.
O trabalho desses cuidadores é valorizado e bem pago. Nas pesquisas que fiz, achei preços médios de 11 euros a hora, por no mínimo três horas. Se ela trabalhar três horas por dia, cinco dias por semana, já ganhará um salário mínimo. Existem trabalhos aqui de domingo a domingo, oito horas por dia, que oferecem o mesmo valor.
O papel do pai
Bom, já que aqui chegamos à conclusão que temos menos babá em Portugal pela cultura, geografia, custo e mais algum motivo que eu ainda não tenha percebido, a consequência disso é vermos a figura masculina bem mais participativa na vida dos filhos, dentro e fora de casa. É muito mais comum ver pais levando as crianças para a escola, o parquinho e até mesmo participando de reuniões com educadores e professores. Não é raro ver aos finais de semana o pai levando a menina para a natação, dando banho, ajeitando o laço do vestido e arrumando o cabelo dela depois de lavado, cena corriqueira por aqui que me encanta!
Acho isso extremamente saudável, e na minha opinião, impede que a criança forme aquele pré-conceito que a figura feminina que tem que dar conta de toda a estrutura da casa, seja a mãe ou uma funcionária. Um lindo aprendizado!