Adaptação das crianças em outro país
Cada um tem a sua maneira de encarar as aventuras da vida. Mas, de certa forma, na adaptação em outro país acredito que muitos são os pontos comuns entre nós. Há pouco mais de um ano, eu e o meu marido mudamos de São Paulo para Lisboa com os nossos dois heróis, naquela época com três e seis anos. Foi uma mudança que teve, no mínimo, dois anos de planejamento. Estávamos completamente seguros quanto à decisão de mudar de país e também a respeito dos primeiros passos burocráticos para nos estabelecer em Portugal.
Tudo parecia sob controle até batermos de frente com o tal furacão da adaptação. E eu que achava que passaria batido por ele depois de tanto planejamento? É… eu sempre fui um tanto otimista (risos).
Prioridade: adaptação das crianças
Quando estava no auge desse importante, mas não exatamente tranquilo, processo, cheguei a ficar oito meses sem cortar meu cabelo. Simplesmente me esqueci, pois parar na frente do espelho para reparar nisso me tomava um tempo precioso. Fazia o bom e velho rabo de cavalo e voilà! Quase um ano sem pintar a minha unha da cor que gosto, já que é um vinho escuro que demorava muito para secar e eu tinha muitas coisas para resolver. Ganhei alguns quilos, comia o que dava e na hora que sobrava.
Enfim, a vaidade, que sempre foi uma prioridade na minha vida, caiu drasticamente de posição, nem sei dizer para qual! Afinal, o mais importante para mim era a tranquilidade dos meus grandes guerreirinhos. Manter a rotina, a alimentação que tinham no Brasil, levá-los para gastar energia, brincar e conviver com outras crianças era o que havia de mais importante.
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Nesse momento, fazê-los se sentirem em casa era minha única prioridade. Afinal, mudei essas crianças de país, cultura, amigos, casa, escola e ainda ficaram longe dos familiares que tanto amam sem entender a verdadeira dimensão da escolha da nossa família. Claro que fiz questão que eles participassem de tudo, desde a decisão de mudar até chegar aqui. Aliás, tomei muito cuidado para que estivessem totalmente inseridos em todo o processo. Ajudou sim, mas era uma vivência que eles nunca haviam passado. Como eles iam entender?
A reação das crianças
Como uma criança pode saber a importância de uma mudança dessa proporção sem nunca ter vivido isso? Como eles poderiam imaginar antes de chegar aqui que na vidinha deles só o pai e a mãe estariam no mesmo lugar? Nem eu podia imaginar…. Então, claro que eles reagiram. Cada um ao seu estilo:
O meu mais velho é uma criança extremamente tranquila e sociável, mas muito ativo também. Está sempre fazendo um esporte ou inventando uma brincadeira. Ele gosta muito de companhia, nos chama todo o tempo para brincar, e se não posso, porque estou fazendo comida por exemplo, ele pega os brinquedos e brinca ao meu lado na cozinha. No início, esse menino que descrevi acima dava chiliques transcontinentais, batia portas e gritava a plenos pulmões, acho que até do Brasil dava para ouvir. Reações exageradas para uma disputa de brinquedos com o irmão.
Já o mais novo sempre foi uma criança mais agitada e aventureira. Ele sozinho se basta e consegue aprontar coisas inimaginavelmente perigosas. Na mesma proporção da agitação é o carinho que nos dá. Adora um colo, um abraço, um beijinho, é capaz de ficar muitos minutos abraçado comigo no sofá vendo um desenho. Com ele as reações foram na escola. Ele sentava a mão todos os dias nos colegas, quebrava copos, jogava comida pelos ares e não parava quieto nem para ouvir uma música da educadora.
Perdi as contas de quantas vezes fui chamada na escola. Na primeira reunião chorei tanto que foram buscar água para que eu conseguisse falar. Sentia olhares estranhos dos outros pais quando ia buscar o meu anjinho loiro de olhos azuis. Não conseguia nem julgá-los, afinal, meu “pituquito” batia nos tesouros deles todos os dias. Em um grande esforço entre a escola e a nossa família, muitas conversas, reuniões e uma atenção redobrada, essa fase passou!
Tudo se acalmou
Os chiliques pararam e voltei a ter o meu grandão, sorridente e cheio de ideias me fazendo companhia por todo lugar. O mais novo voltou a ser um menino rodeado de amigos que admiram o seu coração aventureiro com direito a elogios da educadora!
Apesar de tudo, considero que as reações dos meus meninos foram extremamente saudáveis. Como diz uma querida amiga que trabalha na área de psicologia: eles não guardaram nada dentro deles, colocaram tudo para fora e superaram a fase em que foram obrigados a reaprender tudo de uma forma diferente. Estranho seria se eles tivessem passado por toda essa mudança quietos sem demonstrar que perceberam que nada estava igual.
Passado o furacão da adaptação, tudo isso vira somente história para contar, UFA! Hoje digo com toda alegria que nossa família está em paz. Passamos desse período tão conturbado quanto necessário chamado adaptação. Com toda certeza, podemos dizer que nos sentimos em casa novamente, mas dessa vez na nossa iluminada Lisboa!